segunda-feira, 20 de julho de 2015

A espera

A lua cheia encoberta pela nuvem brilhava no céu. O cheiro doce pairava no ar e as hienas andavam e falavam sem parar. Como um batalhão elas iam e viam, felizes da vida. Não percebiam o que estava ao seu redor e nem perceberam a alma que foi jogada ao chão junto com todas as suas coisas.  “Que que é isso?” sussurrou a velha preguiça sentada. A alma perdida passou imersa em si, resmungando algo inaudível, e não percebeu a crítica que lhe foi dirigida. “Esse povo de hoje em dia. Não prestam atenção em nada que não eles mesmas” reclamou o macaco chamando atenção de seus filhotes: “Meninos parem com isso. Irão se lambuzar todos”.
“É só por cinco reais. Cinco reais. Para acabar!”. A maritaca ao fundo insistia em repetir as mesmas palavras de sempre e sem sorte não conseguia ser percebida. O sorriso amigável no rosto da gata passava falando: “quer um doce?”, tentando ganhar seu sustento. “Não, obrigada” veio do sentado na ponta. “Hoje não querida” o do meio dizia e do último ela ganhou apenas um não de cabeça.
O barulho da caneta no papel marcava o tempo decorrido naquele banco. Enquanto as rodas giravam os pensamentos iam passando e a lua era lentamente descoberta. “Lá vem!” gritaram todos. Passadas rápidas iam em uma só direção e de longe era possível ver patas e trombas se esbarrando e corpos cansados e agitados lutando para garantir seu espaço. “Olha eu ficando pra trás” gritou uma tartaruga ao fundo. O  bode olhou para ela com ar de pena, mas já era tarde demais. Ele não poderia mais ajudar.


Fui distraída por vocês, leitores, com suas vidas individuais, mas tão coletivas.  Andei cabisbaixa e sentei-me no banco, reabrindo meu caderno e destampando minha caneta novamente. O branco à minha frente continuava branco e ao olhar para cima vi a lua cheia sendo novamente encoberta, minha espera recomeçando, meu casco pesando em minhas costas e minha crônica presa em minha cabeça.

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